Bastidores da escrita do romance — e das decisões que me ensinaram que personagens também têm governança.
A escrita como espelho da gestão
Às vezes, enquanto escrevo o romance, tenho a impressão de que não sou eu quem conduz a história — são as decisões dos personagens que me guiam. E talvez seja isso o que mais me fascina nas decisões com alma: elas ultrapassam planilhas, relatórios e estratégias. Afinal, escrever é também uma forma de entender o que está além do controle.
Augusto, o protagonista, é um executivo de uma empresa familiar, herdeiro de um legado que não pediu e de uma responsabilidade que aprendeu a suportar. Ele carrega o peso de um nome, de uma vinha e de um tempo que não volta. Por outro lado, enquanto tento manter o ritmo da narrativa, percebo que ele vive dilemas que já encontrei em conselhos e reuniões.
O reflexo do mundo corporativo na ficção
Quando começo a desenvolver suas cenas, percebo como o que vivi no mundo corporativo insiste em aparecer disfarçado. As reuniões de conselho se transformam em almoços tensos de família. As planilhas, em silêncios incômodos. O ROI, em culpa. No fundo, são as mesmas decisões — apenas com outras consequências.
Escrever esse livro tem sido uma espécie de espelho. Um exercício de olhar para a gestão não pela ótica dos números, mas das pessoas que precisam tomá-los como bússola — mesmo quando o norte não está claro. É nesse ponto que as decisões com alma mostram seu verdadeiro valor.
O que a ficção revela sobre liderança
Além disso, percebi que a ficção entende o executivo antes que ele perceba. Ela revela o que a pauta não mostra, o que o relatório não diz, o que o KPI não mede: o medo de decepcionar, a renúncia disfarçada de escolha, o orgulho travestido de estratégia.
Nos bastidores da escrita, tenho voltado a perguntas que me acompanham há anos: até onde um líder pode ir sem perder a si mesmo? O que fica quando o poder muda de mãos? E, sobretudo, o que é, afinal, sucesso — quando não há mais ninguém para aplaudir?
Escrever, liderar e reescrever-se
Talvez escrever seja a forma mais silenciosa de continuar aprendendo sobre liderança. E talvez liderar — no sentido mais profundo — seja também um ato de escrita: reescrever a própria história, mesmo quando o enredo parece fugir do controle. No fim, são as decisões com alma que permanecem.
Algumas decisões não cabem em atas. Precisam ser decantadas — com tempo e alma.
Alexandre de Salles
Conheça a visão do autor em Sobre Alexandre.
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