O relógio que desperta tarde demais
Em “Time”, do álbum The Dark Side of the Moon, o Pink Floyd transforma o som dos relógios em um manifesto sobre o desperdício da vida — um tema que ecoa fortemente no tempo nos negócios e na forma como líderes e empresas lidam com suas decisões. “You are young and life is long, and there is time to kill today”, canta David Gilmour, ironizando a ilusão de que sempre haverá tempo — até o dia em que o tempo já se foi.
A música fala sobre o adiamento: a tendência humana (e corporativa) de deixar o essencial para depois. No entanto, o depois é uma invenção confortável — e perigosa. O tempo que acreditamos ter é, na verdade, o tempo que já estamos perdendo.
Tempo como ativo estratégico
Nos negócios, fala-se muito sobre recursos escassos: capital, talentos, energia. Mas há um que supera todos — o tempo.
Ele não pode ser estocado, renegociado ou terceirizado. Todo líder, por mais experiente que seja, depende da sabedoria com que usa o tempo: quando agir, quando esperar, quando parar.
Em “Time”, o personagem descobre tarde demais que passou anos “correndo para alcançar o sol”, sem perceber que o sol também corre. Em estratégia, é o mesmo: não basta correr — é preciso correr na direção certa.
A ilusão da produtividade
Há um verso que ecoa a vida corporativa moderna:
“Tired of lying in the sunshine, staying home to watch the rain.”
Vivemos cansados, mas inertes. Ocupados, mas não produtivos. O tempo se perde não apenas no ócio improdutivo, mas também na ação sem propósito.
Quantas reuniões repetitivas, relatórios inúteis e metas sem alma são formas sofisticadas de adiar o essencial?
Gerenciar o tempo sem compreender o sentido do que se faz é apenas cronometrar o vazio.
O tempo humano nas decisões
Em sua camada mais profunda, “Time” fala de mortalidade.
Quando o eu lírico descobre que “one day you find ten years have got behind you”, o tempo se torna espelho — e nele se vê o preço das decisões não tomadas.
Na liderança, esse momento chega quando um projeto adiado ou uma conversa evitada cobra seu custo.
O tempo, portanto, é também vulnerabilidade: o lembrete de que nem toda oportunidade perdida volta.
Decidir é escolher o que envelhece com você
Toda decisão é um pacto com o tempo.
Uma estratégia sólida não é a que promete eternidade, mas a que resiste ao envelhecimento.
Empresas e carreiras só permanecem quando tratam o tempo como variável viva — quando entendem que o que se constrói hoje deve fazer sentido amanhã.
O Pink Floyd nos lembra: o relógio não é inimigo, mas mestre.
Ele ensina que o presente é o único lugar onde o futuro realmente nasce.
Entre o tique e o toque
Há algo simbólico em “Time” começar com um alarme.
É o mesmo tipo de despertar que líderes e criadores precisam viver: o instante em que percebem que tempo não se administra, se honra.
Honrar o tempo é dar profundidade ao agora.
É fazer de cada decisão uma escolha consciente, não apenas eficiente.
É entender que o ritmo da vida — e não apenas o ritmo do mercado — deve guiar o modo de agir.
“Every year is getting shorter, never seem to find the time.”
O tempo passa — e é justamente por isso que ele importa.
Conheça a visão do autor em Sobre Alexandre.
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